ATA DA DÉCIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 03.08.1999.

 


Aos três dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e nove reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e trinta minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Arthur Armando Guarisse, nos termos do Projeto de Resolução nº 04/99 (Processo nº 391/99), de autoria do Vereador Carlos Alberto Garcia. Compuseram a MESA: o Vereador Adeli Sell, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor Cláudio Ely, representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor César Cafrune, Prefeito Municipal de Torres; o Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; o Capitão Júlio César Oliveira, representante do Comando Geral da Brigada Militar; o Senhor Segundo Brasileiro Reis, representante da Associação Riograndense de Imprensa - ARI; o Senhor Arthur Armando Guarisse, Homenageado; o Vereador Carlos Alberto Garcia, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretário "ad hoc". Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças da Senhora Maria Helena Dutra, Secretária de Turismo de Torres; de Léa e André Guarisse, Filhos do Homenageado; e de João Guarisse, Neto do Homenageado. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da  Casa. O  Vereador Carlos Alberto Garcia, em nome das Bancadas do PSB, PTB, PSDB e PPS, discorreu sobre a vida familiar e profissional do Homenageado, analisando os motivos que o levaram a propor o Título hoje entregue pela Casa e destacando a atuação do Senhor Arthur Armando Guarisse no incentivo da difusão do artesanato no Estado. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, ressaltou a justeza da presente homenagem, afirmando ser ela o reconhecimento do povo porto-alegrense ao trabalho do Senhor Arthur Armando Guarisse para elaboração e valorização da sensibilidade e da atividade artística. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome da Bancada do PPB, teceu considerações acerca do significado de conceitos como "artista", "arte" e "criatividade", salientando a importância da amizade para a construção e a afirmação integral da personalidade humana. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, registrou a participação do Homenageado na vida política e social de Porto Alegre, relembrando, em especial, os processos que originaram o Bairro Restinga e o Brique da Redenção. A Vereadora Clênia Maranhão, em nome da Bancada do PMDB, parabenizou o Vereador Carlos Alberto Garcia pela proposta da solenidade ora realizada, declarando que, com esta homenagem, "resgatamos uma questão fundamental  neste  final  de século (...) que é a questão do talento para a arte, (...) da capacidade de colocar a alma acima da matéria". O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, destacou a importância da atividade do Homenageado para o desenvolvimento cultural gaúcho, dizendo ser a marca Guarisse reconhecida no mundo artístico e divulgadora da arte rio-grandense em nível nacional e internacional. Em continuidade o Senhor Presidente convidou o Vereador Carlos Alberto Garcia para, juntamente com Sua Excelência, proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Arthur Armando Guarisse e, em seguida, concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e quarenta e cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima quarta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Adeli Sell e secretariados pelo Vereador Carlos Alberto Garcia, Secretário "ad hoc". Do que eu, Carlos Alberto Garcia, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Sr. Arthur Armando Guarisse.

Convidamos para compor a Mesa o Sr. Arthur Armando Guarisse, nosso homenageado;o Sr. Cláudio Ely, representante do Prefeito Municipal de Porto alegre; o Exmo. Sr. César Cafrune, Prefeito Municipal de Torres; o Sr. Cláudio Ely, da Secretaria Municipal de Cultura, representante do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Coronel Irani Siqueira, representante do  Comando Militar do Sul; o Capitão Júlio  César Oliveira, representante do Comando Geral da Brigada Militar; o Sr. Segundo Brasileiro Reis, Representante da Ari.

Registramos também as presenças da Sra. Maria Helena Dutra, Secretária de Turismo de Torres; Léa e André Guarisse, filhos do Homenageado; e João Guarisse, neto do Homenageado. Convidamos a que façam parte da Mesa.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Carlos Alberto Garcia está com a palavra e falará pelas Bancadas do PSB, PTB, PDT, PSDB e PPS.

 

O SR. CARLOS ALBERTO GARCIA: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Para nós é motivo de orgulho, nesta tarde, estarmos aqui reunidos para conceder o Título Honorífico de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Sr. Arthur Armando Guarisse.

Gostaríamos de ler alguma coisa sobre Arthur Armando Guarisse: coincidentemente ele foi registrado no dia de hoje, 03 de agosto de 1935, portanto, hoje completa 64 anos. (Lê.)

“Filho de Ida Bordin e Luiz Guarisse, imigrante italiano. Começou a trabalhar aos seis anos de idade como empacotador de manteiga no Mercado Público (Banca 24), tendo trabalhado também com compra e venda de automóveis, como criador de galetos, como plantador de tomates, como secretário particular do Diretor-Presidente da União Erexim (hoje UNESUL) e como tesoureiro do IAPTEC (hoje INSS).

Em 1970, Arthur cria e funda o Artesanato Guarisse Ltda., que ficou famoso e conhecido em todo o Brasil e até no Exterior, estando, hoje, suas peças nos milhares de prédios públicos e residenciais. O Artesanato Guarisse também especializou-se em decoração de hotéis, entre eles o Hotel da VARIG, em Manaus.

Arthur Armando Guarisse formou-se em Administração de Empresas, História e Jornalismo, sendo que, como jornalista, escreveu muitos anos matérias sobre Arte Antiga e problemas de pequenas e médias empresas no Jornal do Comércio; na revista Casa e Jardim, escreveu sobre diversos estilos de casas e sobre antigüidades. Na televisão trabalhou como apresentador de Arte Antiga, no canal 10.

Foi agraciado com o título de “Comendador” da ordem de Giusepe Garibaldi, em Vicenza, Itália, região de onde seu pai tinha saído como emigrante.

Sempre como pioneiro em diversas atividades, inaugurou, na Rua Landel de Moura, nº 520, uma das maiores casas de antigüidades do Brasil, aproveitando peças de demolição de casas nobres de Porto Alegre, dando a essas peças uma nova vida e história.

Arthur Guarisse nas décadas 70 e 80 era considerado o rei do artesanato no Brasil. Sua história de vida sempre esteve ligada intimamente à Cidade de Porto Alegre. Por sua opção, exilou-se num mosteiro para cicatrizar suas feridas e encontrar paz e harmonia com Deus.

Guarisse,  as águas do mar da vida quiseram te afundar, tu te segurastes nas mãos de Deus e vencestes.

Nos últimos dois anos, instalou-se no Município de Torres, onde fomos buscar o ermitão, morando à beira-mar, na praia da Guarita. Hoje, o homem comerciante e artista voltou novamente a produzir, levando o seu trabalho a todo o Brasil.

Neste fim de semana, tive a grata oportunidade  de visitar o seu atelier. Encantei-me com a maneira com que delicadamente trata e orienta os seus funcionários. A matéria-prima bruta da região é composta por pescadores. Hoje, muitos deles têm o seu sustento através das peças produzidas no seu atelier. Lá é uma escola de futuros artesãos.

Portanto, Guarisse hoje também é um pescador de homens, porque está formando grandes artistas, tenho certeza. A arte está inserida em todos nós, basta oportunizá-la e saber apreciá-la.

Guarisse, moras em Torres, mas Porto Alegre resgata em tempo o teu reconhecimento e sente-se muito honrada em poder homenagear a ti, que sempre levou o nome de nossa Cidade aos mais longínquos lugares do mundo.

Em nome desta Cidade, Guarisse, nós te agradecemos por tudo aquilo que fizestes, fazes e farás ao longo da tua vida. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Ver. Adeli Sell está com a palavra, pela Bancada do PT.

 

O SR. ADELI SELL: Ver. Carlos Alberto Garcia, no exercício da Presidência, caros Vereadores, Senhoras e Senhores, componentes da Mesa. Tenho o prazer de aqui representar a Bancada de doze Vereadores do Partido dos Trabalhadores para prestar esta justa homenagem à Arthur Guarisse.

Digo ao Guarisse que ele terá, sem dúvida nenhuma, a oportunidade de, num breve espaço de tempo, voltar ao Mercado Público de Porto Alegre, onde começou trabalhando, para, conosco e a municipalidade da Cidade, inaugurar uma loja de artesanato. Essa é a promessa, e diria que é o dever, da municipalidade, que, em parceria com o Governo do Estado, inaugurará uma loja de artesanato no nosso belo Mercado Público. Mercado Público que deve ser cada vez mais reconquistado, visto, olhado com carinho, não apenas nas bancas que vendem produtos ou alimentos nos seus restaurantes, mas, enfim, toda essa multiplicidade que é o mercado, que também é a multiplicidade da nossa Cidade. Como a multiplicidade da nossa Cidade e Estado onde a gente vê jovens, crianças no balcão, trabalhando; como a gente vê jovens artistas com suas obras espalhadas pelo mundo, onde a leitura dos nossos romances, das nossas obras musicais aparecem pelo mundo afora, nossos romances, nossas poesias, até em outras línguas.

As suas obras, seu trabalho, seu artesanato, aquilo que o Sr. Guarisse juntou na sua loja, de muitas pessoas, aquilo de melhor e mais importante, sendo retrabalhado por ele, pelas pessoas que trabalham com ele, hoje estão no mundo. Porto Alegre está no mundo pela sua criatividade. Mas, Porto Alegre está no mundo, fundamentalmente,  porque há criadores. V. Sa. foi o nosso criador, V. Sa. é um criador de idéias, de movimentos, alguém que cria idéias e movimentos é criador. V. Sa. é alguém que vende nossa Cidade pelos quatro cantos do País e do mundo.

Hoje, Torres, sem dúvida nenhuma, contribuindo para o desenvolvimento do nosso litoral norte, meu caro Prefeito César Cafrune. Temos certeza de que nossa homenagem é apenas um gesto, mas que se junta a outros gestos de homens e mulheres comuns que lhe tem muita gratidão pelo trabalho que tem realizado nestes anos todos, desde o jovem menino, lá no Mercado Público no seu trabalho mais simples, mas é este trabalho simples que compõe a vida, que compõe a humanidade, mas também este trabalho de arte, esta  elaboração é a outra parte que compõe a vida, que compõe a humanidade. Mas também este trabalho de arte, esta elaboração é a outra parte que compõe as nossas vidas.

O bom mesmo é podermos juntar, num processo de solidariedade entre homens e mulheres, entre brasileiros e cidadãos do mundo essas questões que são a junção do simples com o sofisticado, do antigo com o moderno numa convivência muito pacífica e harmoniosa. Este é o mundo que queremos compartilhar com V. Sa. nesta tarde e tenho certeza de  que no futuro. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Pedro Américo Leal pela Bancada do PPB.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) As obras de Guarisse atravessaram o Estado, o Brasil e o mundo, encantando pela perfeição e pela engenhosidade.

O que faz de um homem um artista inspirado? Vocação? Tendência? Busca de perfeição? Permaneço nesta indagação, que é uma simples curiosidade e que nunca será respondida. Genética? Talvez, sem apoio da ciência, pois há artistas que não descendem de gênios e gênios que não descendem de artistas, nem tampouco de gênios. Explodem, como se fossem cometas para satisfação de todos nós, os mortais.

Guarisse, que tantas atividades reuniu em sua formação de criança trabalhadora até chegar a rapaz, foi desembocar em sua última profissão, rotineira, como tesoureiro do IAPTEC, hoje INSS. Convenhamos que não combinava com Guarisse. Até então não despontava ele como um grande virtuoso. Podem imaginar Guarisse a contar dinheiro e a fechar um caixa? Eu não consigo. Extrovertido, eclético, rebelde, tendo nas veias o sangue italiano, esse sangue quente, tornou-se comunicador, foi jornalista, mas, em paralelo, escondia o artista. Por quê? O que é ser um artista? Buscar nas instâncias da personalidade esse amor incontrolável de pluriáptico, um irrequieto inovador. Procurando arte, fazendo-a, criando-a e, na beleza da arte antiga, das antigüidades, nos prédios demolidos, ele ia rebuscar, na revigoração das peças, a criatividade para fornecer alma nova aos escombros, provocando, nessa façanha, cobiça nos colecionadores. Fazer do velho, do esquecido, do despojo, do não-vale-nada, uma novidade. É  imaginação, é cabeça, é sonhar, é o que o idealista, se não o sonhador, proclama, é o utópico, tão hoje badalado e ventilado pelo mundo.

Essa criatividade fez Guarisse transbordar do seu ser, inventar, imaginando lá de Paris, e aqui aconselhou o nosso colega Pujol a fazer o Mercado das Pulgas, e se não fez o Pujol, alguém fez por ele, e Guarisse foi o inspirador. O Brique da Redenção saiu da cabeça deste homem. Andou inspirado o Ver. Carlos Alberto Garcia quando foi pinçar esse inventor de coisas que, afinal, deu ao Brique da Redenção a faculdade de iluminar os domingos de Porto Alegre. Já imaginaram Porto Alegre de sol, sem o Brique ensolarado nas manhãs de domingo? Houve até um programa, se não me engano do meu amigo Moreau, que dizia isso e proclamava isso: manhãs de domingo!

 E foi criando, inventando, modelando, esculpindo sua marcha pela existência. Onde vai desembocar? Ele mesmo não sabe.

Vou, todavia, desvelar uma faceta íntima desta personalidade de gringo triunfante e genial. O amor aos amigos. Vou fazer uma confidência coletiva. O amor aos amigos, a fidelidade ao companheiro, no silêncio amargurante da desdita. O ocaso que afasta os festivos e os festeiros.

Era 1964, vivi este ano como poucos. Sou um testemunho da História. Desmoronava-se uma estrutura e surgia outra. Não cabe aqui considerações sobre a época. Era seu sogro e amigo dileto, o velho Deputado João Caruso, personalidade influente, quanto ou até mais do que Brizola, na época. Chegar perto dele, repentinamente, tornou-se arriscado, quase suicídio! Guarisse o estimava  como um homem de bem,  estimava este homem quase que com amor, que irmana os homens ao amar os homens. E, por que não? Que vergonha  há nisso? Era pai de sua mulher, seu amigo, confidente das horas difíceis e incertas. Não sei até que ponto este homem influenciou a vida de Guarisse.

Caruso estava preso, no Presídio Central, e era constantemente visitado por Guarisse; dias e meses a fio, constantemente visitado por Guarisse. Foi aí que Guarisse ouviu, do próprio Deputado João Caruso, homem sensato, uma ordem: “Me deixe. Não venha mais me visitar. Não se destrua.”

Mas Guarisse o amava muito, era grato por tudo o que tinha recebido. Fora o filho para o velho que, agora, estava na desdita. Estou abreviando uma época. É difícil abreviar uma época.

Seu emprego, de tesoureiro no INSS, foi-se águas abaixo, como  conseqüência ficara desempregado ao lado do sogro. Por quê? Não sei. Por que tanto amor? Não sei. A amizade, devidamente comprovada, era a retribuição que Guarisse poderia dar a esse homem. Todavia, uma amizade quase que em holocausto. E é esse o artista que hoje destacamos.

Como traço maior de sua personalidade a grandeza de não depositar, nas primeiras dobras do caminho, o fardo duro e pesado da gratidão, a estima do velho sogro, tão festejado nas boas horas e que agora estava em silêncio e sozinho.

Alçou vôo para a trajetória iluminada, deixando todos os empregos, partiu para a arte e tornou-se gênio da arte, conquistou o Brasil, é conhecido no mundo inteiro, e hoje recebe esta reverência, por iniciativa do Ver. Carlos Garcia, e com a unanimidade deste colegiado, que não teve dúvidas em sufragar a sua proposta. Bom homem, que saía, de repente, do desconhecido e que, com grande fama, era perguntado a todo Plenário: “Querem conceder esse título emérito a Arthur Guarisse?” Esta Casa respondeu: “Sim!”  Usufrua! Viva isso, porque é uma grande honra. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra pela Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) O Ver. Carlos Alberto Garcia não podia ter sido mais feliz e mais inspirado quando buscou, escondido entre os molhes de Torres, recuperar e resgatar para Porto Alegre a figura de Arthur Guarisse. Não podia ter sido mais feliz, Ver. Carlos Alberto Garcia.  V. Exa. que tem sido a grande revelação desta Legislatura, pelo seu trabalho, pelo seu descortino, pelo seu entusiasmo, acrescentou mais um ponto a essa trajetória brilhante que está tendo na Câmara Municipal. Tenho certeza de que V. Exa. tem agido de forma correta, não por estar homenageando um amigo meu, uma pessoa com a qual convivi, não nos períodos de 64, porque tropecei na sua vida nos idos de ano 70. E V. Exa., Ver. Pedro Américo Leal, tem razão sobre a importância e o significado que esse relacionamento provocou para a Cidade de Porto Alegre.

Posso dizer, Ver. Carlos Alberto Garcia, sem sombra de dúvida, que na minha trajetória política, neste Município, há dois momentos que são absolutamente  emblemáticos  e o Guarisse está presente nos dois. Primeiro, a consolidação da Restinga como um conjunto habitacional modelar em toda a América Latina, que hoje ainda precisa ser complementado numa das suas funções fundamentais, que é a alternativa do emprego, a ocupação localizada que absorva aquele contingente imenso de mão-de-obra que desponta e se renova a cada dia e a cada tempo. Eu dividi  essa preocupação com o Guarisse lá pelos idos de 76, vai-se muito tempo. Não fossem as dificuldades da época, o hoje sonhado Distrito Industrial da Restinga já teria lá instalado o seu primeiro  empresário, porque, na ocasião, o Guarisse só não se instalou lá, porque a Companhia Estadual de Energia Elétrica não dotava de força a área e, de outro lado, nós não  tínhamos a garantia da comunicação pela telefonia, porque  só a partir daquele momento é que se foi buscar a subestação da Restinga e a chegada da CRT com todo o seu potencial de comunicação que hoje se encontra  lá instalado.

Ver. Carlos Alberto Garcia, quando o Dr. Guilherme Socias Villela me falou, na primeira vez, se eu não imagina organizar, em Porto Alegre, um “Marchand de Puis”, confesso que saí meio aparvalhado e fui até o Artesanato Guarisse discutir o que era esse mercado das  pulgas do qual o Villela falava. Das nossas conversas surgiu a reunião de vários valores da nossa Cidade, do Galvani, do Armando Burd, da saudosa Gilda Marinho, do Luiz Inácio Medeiros, do Carlinhos Artieb, hoje não mais entre nós, e tantos outros que se somaram a nós para criar uma comissão que parecia sonhadora e que, depois, com a colaboração do Flávio Coutinho e de outros tantos, se transformaria no que seria o chamado Mercado das Pulgas, depois se transformaria num brique, ganharia o batismo de Brique da Redenção, que hoje é a realidade das manhãs de domingo de Porto Alegre.

Não posso ter duas coisas mais marcantes na minha vida e na minha trajetória em Porto Alegre do que a Restinga e o Brique da Redenção, e nessas duas situações tu estiveste presente.

E é verdade que os homens, os seres, como seres humanos, tendem a esquecer das coisas e eu andava esquecido do Guarisse, do meu amigo Guarisse, que está lá de tocaia, quase que em atalaia, na nossa Torres, e vendo, quem sabe, a alegria de não ter um trânsito conflitado, convivendo com um Prefeito sabidamente competente e desenvolvendo o seu potencial de criatividade, que sempre foi sua marca e que sempre foi a sua característica identificadora; o Ver. Carlos Alberto Garcia foi lá em Torres e nos resgatou o Guarisse e ele está, hoje, aqui conosco recebendo esta homenagem, absolutamente adequada, em que a Cidade de Porto Alegre lhe outorga o Título de Cidadão Emérito pelo que ele contribuiu como homem de idéias, como pensador, como primeiro gaúcho seriamente e empresarialmente a enfocar o problema do mercado de antigüidades, criando o Artesanato Guarisse, cujas características, glórias, sucessos, já foram amplamente decantados pelos oradores que me antecederam e com o brilho invulgar que lhe caracteriza, pelo meu querido amigo e grande Líder Pedro Américo Leal.

Guarisse: o Ver. Carlos Alberto Garcia, ao propor esta homenagem e numa Exposição de Motivos muito sintética, tem uma frase que considero exemplar. Falando de ti, ele disse que tu começaste a trabalhar aos 6 anos de idade como empacotador de manteiga, na Banca 24 do Mercado Público. O Ver. Adeli Sell quer te trazer de volta. Mas o Mercado Público não é mais aquele. Provavelmente não tenhas que empacotar tanta manteiga, agora. As coisas mudaram. Ela já vem empacotada. Mas trabalhaste, também, na compra e venda de automóveis - na época, comprar e vender automóveis era tido como uma profissão perigosa! Para chegar na Rua 7 de Setembro era preciso ter cautela. Como criador de galetos; como plantador de tomates, como secretário particular do diretor presidente da União Erexim, hoje UNESUL, e finalmente - e foi bem acentuado pelo Ver. Pedro Américo Leal - como tesoureiro do IAPETEC, onde não sei se tu contaste mais dinheiro do que aborrecimentos, porque isso, tem razão o Pedro Américo, não faz parte do teu estilo.

Esse conjunto de coisas demonstra a tua versatilidade e a tua capacidade de ruptura. Tu não te conformaste com essa vida de empacotador de manteiga, não quiseste ser um burocrata a mais nesse País de burocratas, rompeste estruturas, te lançaste à luta, ganhaste espaço, subiste, tiveste altos e baixos, contrariedades, obstáculos quase intransponíveis, mas persististe, porque no fundo tu és um poeta, tu não és um artesão, um empresário, tu não és um homem da cultura, tu não és um empacotador de manteiga, nem tampouco tesoureiro do IAPETEC, tu és na verdade um poeta, um poeta que, como Fernando Pessoa, acredita que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

Quero te dizer, com a tranqüilidade de um amigo: valeu a pena sim, valeu tu teres sido o Arthur Guarisse que me ajudou a montar o Brique da Redenção, tu me renovaste o entusiasmo de levar um trabalho para a Restinga, mas, sobretudo, tu viveste como homem, como ser, como chefe de família, como homem de coração aberto, como genro amantíssimo, coisa rara no mundo de hoje.

Valeu sim, Guarisse, e valeu para mim poder, hoje, te homenagear. É uma glória para mim poder dizer: valeu a pena, meu caro amigo, tu hoje és Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Vera. Clênia Maranhão está com a palavra pelo PMDB.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Inicialmente quero parabenizar o Ver. Carlos Alberto Garcia pela lembrança e dizer que a sua decisão, que foi referendada pela unanimidade desta Casa, poderia ser a decisão de todos os Vereadores. Nós todos gostaríamos de ser autores desta proposta, mas compartilhamos com V. Exa., com prazer e alegria, o fato de o Sr. Artur Guarisse ser o nosso homenageado de hoje.

Com esta homenagem, resgatamos uma questão que é fundamental de ser resgatada neste final de século, porque nós vivemos em uma etapa da história extremamente marcada pelos avanços tecnológicos, que possibilitam o acesso de tantas pessoas ao conhecimento global; uma época em que as informações projetam muitos e dirigem as pesquisas do fundo dos mares, dos planetas, das galáxias. Mas esta é uma etapa da história da atomização, que valoriza a tecnologia, a cibernética, a informática e que trouxe, junto de tudo isso, uma extrema valorização da competitividade, da massificação e que prejudica tantas vezes a criatividade e a expressão da alma nas pessoas. Foi marca deste século, os astronautas, os internautas, a globalização, essa predominância da competitividade acima dos conceitos básicos do humanismo, da tecnologia sobre a criatividade.

O que o Ver. Carlos Alberto Garcia, com a sua homenagem, traz para nós, além da possibilidade de também homenageá-lo, é de resgatar aquilo que, seguramente, está acima de todas essas questões que foram priorizadas neste século, que é a questão do talento para a arte. Porque, essas e mais coisas, nós podemos aprender nas escolas, nas universidades, nos treinamentos das empresas, nos seminários, agora, esse dom, ele é absolutamente solitário, no bom sentido, porque ele é absolutamente individual.

Em lhe homenageando, o Ver. Carlos Alberto Garcia homenageia e resgata aquilo que é prioritário: nos mostrar o que é o secundário do que é o fundamental, porque valoriza a arte e, não, o material.

Os artistas são aquelas pessoas que têm a capacidade de, usando tantas matérias, colocar a sua alma em cima delas.

Os gaúchos tiveram o privilégio de lhe ver nascer, de lhe conhecer e o Brasil de conhecer, menos que os gaúchos, a sua arte.

Quero dizer ao Senhor, apesar de não conhecê-lo pessoalmente, que temos duas identidades: temos um grande amigo em comum - eu sei que é uma pessoa que o Senhor respeita muito e é muito amigo - o Senador Pedro Simon; e de compartilhar a Praia da Cal, uma das imagens mais bonitas do Rio Grande, uma pequena praia no Município de Torres, a praia do cartão postal do Estado. Um belo dia cheguei na Praia da Cal e vi que ela havia sido embelezada, não por uma casa a mais que foi construída, mas por uma casa que tinha a alma do Guarisse. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra e falará em nome do PDT.

 

O SR. ISAAC AINHORN: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Tenho muita honra, neste momento, por várias razões, em usar esta tribuna para saudar o nosso homenageado, na feliz iniciativa do Ver. Carlos Alberto Garcia. O Ver. Carlos Alberto Garcia, na sua jovem experiência parlamentar, nesse seu primeiro mandato ele tem-se revelado um Vereador de muita sensibilidade. Compreendeu o exato sentido e as razões que levam um Vereador outorgar tal ou qual título ou tal ou qual homenagem a uma pessoa. Esta Casa tem, fundamentalmente, duas homenagens: de Cidadão de Porto Alegre e de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Como o homenageado é oriundo da Cidade de Porto Alegre, é cabível o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, são duas homenagens significativas, expressivas que esta Casa presta.

Mas o que leva alguém a conquistar esta condição de Cidadão Emérito de Porto Alegre? São os relevantes serviços que alguém prestou a esta Cidade e é tão marcante a sua contribuição e falo porque embora pessoalmente não o conhecesse, embora muitas ligações próximas possuímos, nós diríamos que no bom sentido Guarisse é uma marca da Cidade de Porto Alegre, hoje, estadual, nacional e, até me atreveria dizer, internacional dentro da visão de artesanato. É uma marca e quando se fala em Guarisse pensamos em alguma antigüidade como um abajur, um móvel antigo restaurado, isso é uma marca e é uma marca da Cidade de Porto Alegre em que o senhor com o seu gênio, com a sua iniciativa criou e é muito difícil criar uma marca sobretudo quando essa marca não vem embasada por um investimento de poderosos recursos. Essa marca foi constituída exatamente pela qualidade dos trabalhos que o senhor prestou. Embora, durante muito tempo o senhor tenha se afastado de Porto Alegre, essa marca ficou.

Esse já seria o argumento que, por si só, Vera. Clênia Maranhão, justificaria na sua plenitude a outorga da concessão do título de Cidadão Emérito de Porto Alegre no reconhecimento da representação política de uma cidade a uma determinada pessoa.

Teríamos mais, o assinalado pelo Ver. Reginaldo Pujol: o cartão postal da Cidade de Porto Alegre, a contribuição, a idéia da criação de um mercado de pulgas, do Brique da Redenção. Antes de virmos a esta Sessão, estávamos no âmbito da Comissão de Defesa do Consumidor debatendo o projeto da criação do Brique do Largo Glênio Peres, junto ao Mercado Público, buscando resgatar aquele espaço da Cidade.

Hoje acorrem ao Brique da Redenção, na manhã de domingo, mais de vinte cinco mil pessoas. É a consagração cultural e turística acima dos aspectos comerciais. Que bom que podemos juntar atividade de ganho para muitas pessoas, que é o que representa o Brique da Redenção, conjuntamente a uma atividade de natureza cultural e turística.

Hoje estamos tentando criar, através de iniciativa desta Casa, de um Projeto de Lei de minha autoria, o Brique do Largo Glênio Peres, conjugado ao Mercado Público, num esforço de resgate do centro da Cidade, que é a aspiração de todos aqueles que amam Porto Alegre.

Eu tenho a certeza e a convicção de que V. Sa., embora não residindo em Porto Alegre, tem o seu coração aqui nesta Cidade, por muitas razões. Uma delas é ter criado a marca Guarisse, sinônimo de obra de arte antiga, de resgate, de restauração de obra de arte, tão importante para a memória de uma cidade. As velhas portas e janelas coloniais, hoje há o reconhecimento, mas quem foi o desbravador disso, inegavelmente, foi Arthur Guarisse. Porto Alegre lhe deve muito.

Marca-me muito, não poderia deixar de me manifestar também nesta oportunidade, porque Guarisse tem um vínculo com a história da nossa Cidade, Estado e País pelas suas raízes, que teve com o trabalhismo uma figura tão cara para mim, a quem conheci no Uruguai, o Dr. João Caruso. Tive a honra de ter designado o nome de um logradouro público da Cidade de Porto Alegre ao Dr. João Caruso, que era um sábio. Homem de uma profunda sabedoria, tinha um grande coração, mas também foi um grande dirigente partidário. Um homem que sabia até nos momentos difíceis dizer não, o que para ele era uma violentação, do ponto de vista humano. Mas foi um grande condutor partidário. Como ele, hoje, infelizmente, não há alguém, dentro de uma tradição de grandes homens públicos que enalteceram essa terra, João Caruso não nasceu no Rio Grande do Sul e, sim, na Itália.

O que mais me comoveu na sua figura, Sr. Guarisse, é a pessoa que guarda os seus vínculos com as suas raízes, com seus vínculos antigos e é leal à história passada. Embora o senhor tenha traçado um novo perfil na sua vida individual, nunca rompeu com aquele passado, com aquela memória dos seus filhos, da sua antiga companheira,  desses vínculos familiares. Isso é algo que deixa para todos nós como um grande exemplo de lição de vida.

Por tudo isso, até diria, Ver. Carlos Alberto Garcia, alguém que mora em uma rua cujo nome é Encosta da Torre do Meio, 3020. Não é para qualquer um morar na Rua Encosta da Torre do Meio. Arthur, permita-me que assim eu mencione, de uma forma carinhosa, familiar, afetiva, porque tu és uma pessoa que integra o nosso universo e honra Porto Alegre em todas as tuas ações, em todos os teus trabalhos. Com certeza, porque nele tu investe amor e dedicação.

Os nossos cumprimentos. Entendo que Porto Alegre, hoje, resgata uma dívida que tinha contigo, no momento em que te outorga o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador. )

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Ver. Carlos Alberto Garcia, proponente desta Sessão para que, conjuntamente, possamos fazer a entrega ao nosso homenageado do Título de Cidadão Honorífico da Cidade de Porto Alegre.

 

(É feita a entrega do Título.)

 

Com a palavra o nosso homenageado, Sr. Arthur Armando Guarisse.

 

O SR. ARTHUR ARMANDO GUARISSE: (Saúda os componentes da Mesa.) Ver. Carlos Alberto Garcia, autor da proposição, razão pela qual estou aqui,  recebendo hoje esta honraria por ele proposta. Ela passa a fazer parte, agora, da minha história.

Exmos. Srs. Líderes de todos os partidos que me apoiaram; meus familiares e amigos aqui presentes.

Guardando as devidas proporções e sabendo da minha pequenez, permitam-me referir um fato pouco conhecido da história da humanidade, que torno como metáfora para este evento. Não é a primeira vez que um político que representava todos os políticos da humanidade homenageia um artista. Em torno da metade do Século XVIII, Napoleão Bonaparte, que em segredo admirava o grande artista das letras Johann Wolfgang Goethe, seu desafeto político, Bonaparte surpreende Goethe mandando carruagens das melhores para ir a Frankfurt para buscá-lo e recepcioná-lo no Palácio de Versailles em Paris. Após seis semanas de viagens, chega Goethe a Paris e é recebido no palácio. Quando adentra a sala do trono, Napoleão Bonaparte, que nunca havia-se levantado para ninguém, vai em direção a Goethe de cabeça baixa, estende a mão e diz uma frase ao grande Goethe: “Tu es un homme!” - tu és um homem. Sem mirarem as faces, dá meia volta e de mão para trás, que era o seu gesto característico, sai do ambiente e sequer retorna ao trono. Goethe fica tomado de espanto, e patético diz ao mestre de cerimônias: “Como eu viajo três semanas para chegar aqui e ouvir isso do grande Napoleão Bonaparte?”. Ao que o mestre de cerimônia repara Goethe dizendo-lhe: “Algo mais o senhor gostaria de ouvir de um ser humano? Esse é o maior elogio que um ser humano pode dar a outro ser humano!”

Assim, caros amigos, sinto-me aqui hoje. E repito modestamente que vocês, caros Vereadores, são os “napoleões bonapartes” do pampa gaúcho, vocês são a política, o poder. Aqui represento o artista, não o artista das letras, mas, talvez, porque o artista seja também um político enrustido, porque o artista das antigüidades, como eu modestamente me sinto, e vocês dizem que sou, esse artista seja também um político na medida em que retira do esquecimento e resgata a história de um povo, seus objetos, como na vida política a história é o pilar invisível que sustenta a política, no melhor sentido da política. Como diz Aristóteles, o político é aquele que vive nas pólis - cidades atenienses. Daí vem a palavra política. O que vive e habita nas pólis, o que faz é rondar as cidades, resgatando das ágoras, que são as praças atenienses, buscando objetos que resgatam o verdadeiro sentido da política, que é a memória do povo, da qual ele se sustenta para preservar códigos de comportamento, códigos civilizatórios. Isto é, ao meu sentido, também, tarefa política. Ir às praças, buscar objetos, preservá-los, restaurá-los e levá-los de uma forma mais acessível ao povo, para que a memória de um povo esteja viva e nunca seja esquecida.

Neste momento em que vocês me dizem, com toda esta homenagem, que eu sou um homem, que a minha vida é válida, talvez viva, eu me sinto vivo, neste momento, vivo e válido. E me pergunto: será que o artista nasce ou se faz? Talvez eu tenha nascido artista, e me dava conta que meu pai, imigrante italiano, oriundo de Vicenza, cidade das artes, ou melhor, de Rossano Vêneto, próximo a Vicenza, ao escolher para mim o nome de Arthur, será que ele já não previa que meu nome continha arte? Arthur! Talvez seja muita presunção minha, mas eu acho que o ser humano cumpre o mito do nome que leva, e eu me tornei artista. O dono do mundo homenageia um artista e, agora, esta Câmara homenageando Arthur Guarisse.

Um homem é aquilo que foram seus nonos, seus pais e o que serão, amanhã, os seus descendentes. Hoje, eu me sinto, aqui, mais em um. Aqui há vários Arthur Armando. Há vários Arthur que são homenageados: meus nonos, meus nove tios e mais ou menos uns trinta primos. Quero-me referir, também, aos meus avós maternos, Pedro e Júlia Bordin, que vieram de Santa Maria. Ele era, também, italiano. Sinto-me, intimamente, como fiel depositário de meus antepassados, dos meus filhos e netos, e das expectativas e esperanças que tiveram e têm por mim.

Já não importa o que disseram de mim, o que importa é o que eu vou fazer com o que fizeram de mim. Fica provado que a  ave Fênix, que renasce das cinzas, não é apenas uma ave, é um ser humano. E eu, hoje, sinto-me resgatado das cinzas, do sofrimento, porque muitos pedaços eu deixei pelo caminho.

Quando vocês foram-me buscar, lá em Torres, para estar aqui, veio-me à lembrança a longínqua época, quando um menino de seis anos empacotava manteiga, com o seu pai, no Mercado Público, na Banca 24 - a Banca Antonello. E o tempo passou. Entre muitas atividades, no ano de 69, criei o Artesanato de Móveis e Luminárias Guarisse Ltda., na Tristeza. Então, era casado com Lea Caruso, que na época muito colaborou, e é mãe dos meus cinco filhos.

 Não posso esquecer, neste momento, de duas figuras ímpares, quando iniciei o Artesanato Guarisse. Foi num período muito difícil em que o “genro do Caruso” abria um negócio. E chegar no Banco do Brasil e pedir um empréstimo era mais difícil ainda. Eu abri uma loja nos fundos da minha casa e apareceu lá o General Amir Borges Fortes, cuja esposa está aqui. Ele adquiriu a primeira peça que fabriquei. Ele disse: “Você tem que conseguir um financiamento e eu vou te levar ao Banco do Brasil.” E ele me levou ao então gerente do Banco do Brasil, Dr. Dinar Gigante. Aí se vê que a arte não tem partido. Essas duas pessoas muito apoio me deram.

Não posso esquecer pessoas como Maurício Sirotsky, Ibanor Tartarotti, Zaida Jarros, Breno Caldas e Ari de Carvalho. Agradeço a todos que passaram pela minha vida sem esquecer de ninguém, porque estão sempre, permanentemente, em meu coração. Jamais poderia deixar de destacar o meu pai, Luís Guarisse, minha mãe Ida Bordin Guarisse e meus irmãos, Iolanda e Pedro. Agradeço aos Irmãos Maristas que me deram a formação cultural e a Dom Luís Felipe de Nadal, a quem devo a minha formação religiosa, na Igreja Santa Cecília.

Também, agora se impõem, pelo próprio ambiente desta Casa, lembrar uma figura ímpar de quem eu fui familiar e seu secretário particular nos idos de 60 a 65. Foi um dos maiores políticos do Rio Grande do Sul, Dr. João Caruso, a quem homenageio neste momento e a sua esposa, minha grande amiga, dona Maria de Caruso, e também, a Clélia Spalding Caruso, que muito contribuiu com a nossa família.

Senhores Vereadores e amigos aqui presentes, um artista se faz eterno e, neste momento, eu me sinto eterno. Vocês acabam de me passar, talvez sem se darem conta disso, uma apólice de seguro para a imortalidade. Aqui eu sinto, na vida terrena, que tenho um continuador, André Caruso Guarisse e mais minha filha Leinha Guarisse, que é uma grande artista plástica; meus seis netos: João, Werner, Bruno, Cristian, Vitória, Pedro. E, lá na vida eterna, como afirmou meu amigo de todas as horas difíceis,  o Reverendíssimo Bispo de Caxias do Sul, D. Paulo Moretto, que me deu acompanhamento espiritual quando da partida do meu filho Arthur Caruso Guarisse para a eternidade. Ele afirmou que meu filho é um aguardador e que me aguarda na vida eterna. 

Caros presentes, dei-me conta de que a amizade dá aquilo que o amor apenas empresta. Quem sabe o verdadeiro amor não seja este dos Senhores e Senhoras, porque a amizade é expressão do verdadeiro amor.

Não posso esquecer, aqui, Sandra Brea, uma das maiores artistas global, minha segunda esposa, de quem estou separado e que hoje passa as agruras de uma doença incurável.

Finalizando, agradeço a todos, à imprensa, à mídia eletrônica, e quero dizer que  os Senhores e Senhoras  são peças fundamentais no meu trabalho.

Eu  deixei por último, propositadamente, uma homenagem que quero fazer ao meu nono e a minha nona - em italiano significa avô e avó - Ricardo e Angela  Antonello Guarisse. Quando desceram do navio, vindo da Itália como imigrantes,  foram,  graças a Deus,  destinados  a viver em Porto Alegre. Eles  começaram aquilo que  eu recebo aqui hoje, uma das maiores honrarias que a Cidade pode oferecer a um porto-alegrense.

Por fim, agradeço a todos, especialmente aos meus familiares aqui presentes, aos oradores que me antecederam, ao Ver. Carlos Alberto Garcia e a sua esposa que estiveram me visitando. Espero que Deus, na ressurreição dos mortos, permita que eu leve  comigo esta Porto Alegre que eu tanto amo. Tenho dito, muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h45min.)

 

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